.: Trabalho - One Post - Rank D { Yukimura Ayumi - Sabertooth } :.

— Yay yay yay! Uma missão! — comemorou a garota alegremente, assim que o Mestre da Guilda se afastou.

Finalmente ela conseguira, sim? Poderia sair por aí pra fazer algo por sua guilda. Era bom o simples fato de estar lá, num lugar com tantas outras pessoas, mas ela precisava ajudar. Se tornar mais forte para poder matar combater pelo bem maior, não? Pois bem, ela iria. Ela fora enviada para Web Valley e mesmo sendo tratada com indiferença - ao menos foi no que quis acreditar -, Ayumi continuou com sua empolgação. Essas pequenas coisas, como pessoas falando dessa forma com ela logo melhorariam; porém, para isso, precisava mostrar que era capaz de algo.

Ela recebeu uma bolsa de couro para armazenar os espólios, e também alguns avisos quanto ao que fazer e o quê procurar. Constatou que não era uma coisa tão difícil: uma missão de busca, onde alguém (ou algo) deveria morrer para que ela pudesse voltar com o que fora pedido. Embora não fosse demonstrado, algo em seu interior sorria: era o seu alter-ego. Ele sentia quando haveria sangue em suas mãos e, quando o fazia, gostava.


Ela não esperava que o lugar se revela-se tão quente. Sim, ela entendia que com o sol incidindo nas rochas o dia inteiro, não haveria outra; aquele calor a acompanharia, pelo menos, até de noite. Ayumi tinha de, por vezes, pular de uma pedra para outra; o lugar era realmente rachado, com algumas pedras distando bastante uma das outras. Seu tempo era limitado, então ela tinha de pensar... rapidamente. Lagartos. Até que parte do DNA eles compartilhariam com os lagartos realmente? Ainda era por volta das 11:00, então o sol não estaria em seu auge. Sendo um ser pecilotérmico - ao menos era na hipótese em que se baseava - eles estariam absorvendo energia para manterem a temperatura de seus corpos em um nível estável, para que suas funções orgânicas não fossem comprometidas. Sendo assim, eles estariam no lugar de maior incidência solar... sim, provavelmente era isso.

Ayumi então olhou em volta, perscrutando pela vasta área com seus atentos olhos. A infinitude de pedras continuava para todos os cantos, mas alguns em especial chamaram sua atenção; as pedras eram um pouco mais elevadas e, de certa forma, pareciam mais isoladas que as outras. Seu corpo moveu-se sem sua autorização, quase como se não fosse ela mesma.

"Para lá."

E ela foi. Seus olhos, antes tão expressivos e atentos, agora aparentavam ser duas órbitas vazias. Ela pulou por algumas rachaduras sem ao menos medir um pouco da distância; os saltos foram perfeitos, bem realizados. Desceu uma parte mais ingrime, deslizando pela rocha. Mais à frente havia um lugar escondido por entre rochas, mas que tinha uma boa iluminação devido a uma abertura que tinha lá em cima, permitindo que a luz do sol incidisse no lugar sem que seus usuários necessitassem se expor a perigos. O lugar perfeito. Sua consciência voltou assim que vislumbrou o lugar e ela, confusa, perguntou-se em voz alta:

— Yare yare... onde eu estou?

Era uma pergunta que não precisava de respostas, claro. Ayumi costumava ter esses apagões, embora eles viessem com menos frequência antigamente. O pior não era nem "apagar" e sim não se lembrar do que fizera assim que acorda; é como uma droga que vem periodicamente para tomar o controle. De qualquer forma, ela percebeu que já tinha andado um bocado. Fez um "hunf" de pirraça, mesmo embora não houvesse ninguém para ver ela se lamentando daquilo. Ela analisou o lugar em que seu subconsciente a tinha levado e constatou que esses apagões tinham sua utilidade. Lá onde havia a abertura, três criaturas humanoides reuniam-se na luz do sol. O sorriso que iluminou a face de Yukimura seria encantador para todos que o vissem, mesmo que não pelos sentimentos que o causavam. Ela deu a volta no lugar e subiu por mais uma cadeia de rochas, chegando a um ponto onde podia ver os homens-lagarto de uma forma melhor. Ayumi estimou que a altura entre ela e eles era de mais ou menos quinze metros, então precisava se aproximar mais para não se arriscar demais naquele precipício.

Ela novamente prestou atenção nos mínimos detalhes do lugar, analisando-os da melhor forma possível sem fazer barulho; não podia alarmá-los, e fazer vibrações demais seria a melhor forma de fazê-lo. Havia um pequeno caminho feito na própria pedra mesmo, obra natural do vento; pelo seu tamanho relativamente pequeno, ela passou por ele com facilidade, chegando a um marco onde estava somente a uns sete metros deles. Por sorte, ainda não tinha sido percebida.

"Melhor assim."

E novamente, Ayumi perdia o controle de si.

A mão estendida para a direita, naquele mínimo espaço, possibilitava ela de pegar sua arma. Um machado de aparência comum, comumente usado para cortar lenha ou outras coisas. Ela gostava de chamá-lo de Body Cutter. Era um nome tão bonito e, ao mesmo tempo tão adequado para sua função. O círculo mágico sumiu tão rápido quanto aparecera, e ela pulou.

Alguns considerariam loucura pular de alturas assim, dado a chance que havia de quebrar as pernas ou algo até pior. Todavia, ela não fizera aquilo por puro instinto. Se estava a mais ou menos sete metros do chão onde eles pisavam, poderia pular no maior (o da direita, pelo que ela constatara) que tinha - numa estimativa - 1,90 de altura. Isso reduziria a altura de choque e a probabilidade dela se machucar e, além disso, daria uma enorme chance de um assassinato mais rápido. Não que Ayumi conhecesse essa arte, porque ela realmente não o fazia; quem estava coordenando tudo era, porém, seu alter-ego.

O movimento fora rápido: o machado que utilizava com ambas as mãos cravou-se na cabeça do maior lagarto, funcionando como uma alavanca. Enquanto o corpo dele ia ao chão, o dela também chegava à superfície com um amortecedor; no caso, o corpo do humanoide. Ela puxou o machado, arrancando o que viesse com ele (no caso, sangue e miolos), girando-o para a direita para acertar o segundo lagarto, este ligeiramente menor do que o primeiro. Talvez fosse pelo susto, mas a criatura demorou a reagir. Tempo perfeito para que ela retirasse a arma de seu flanco e o atacasse novamente, cortando-o quase até o umbigo.

"Menos dois."

Quando tentou retirar a arma do monstro é que ela percebeu que tinha feito o golpe com selvageria demais. Tentou mais uma vez, com mais força e acabou retirando-o, mas não sem antes sentir sua camisa rasgar, assim como um arranhão na barriga. Ela olhou para a terceira criatura, menor que ambas as outras. Não tinha tempo para avaliar o estrago em sua barriga, embora pudesse dizer que fora pequeno; o corte tinha sido leve, ou ela teria sentido mais dor. Ayumi, com o gume do machado e também algumas partes do corpo cobertas com sangue (não o seu, claro), avançou na direção da outra criatura num arco de cima pra baixo. O último monstro era, no entanto, mais rápido que os outros dois. Desviou-se para o lado e a empurrou, fazendo a garota cair no chão. Ela viu que ele tentava fugir, pois este já se esgueirava por um caminho que ela não tinha visto antes. Por não conhecer o território, não poderia se dar o luxo de deixá-lo se afastar demais e, além disso, ele poderia chamar ajuda. Isso não seria nada bom.

O lagarto entrara num caminho mais estreito, afastando-se com uma certa lentidão. Ayumi não poderia dar-se o luxo de deixá-lo se afastar tanto, ou poderia acabar levando a pior. Por ser menos larga que ele e também por ter uma certa flexibilidade nos membros, conseguiu acompanhar o ritmo do outro com facilidade; em alguns segundos, já estava em sua cola. Quando preparava-se para acertá-lo, o caminho abriu-se um pouco mais e ele começou a correr em disparada. Novamente, ela teria de usar seu instinto para sair daquela situação. Flexionou o braço para trás e o jogou para frente, arremessando a arma na direção do monstro.

O baque da arma na carne fora decerto audível. O lagarto veio ao chão com um lamento ininteligível que ela não fez menção de entender. Pegou a arma de suas costas e o acertou mais duas vezes para ter certeza de sua morte. A poça de sangue e a inércia do corpo eram fatores que constatavam a morte da criatura. Ela olhou para frente e para trás, mas não viu nenhuma ameaça. Abaixou-se e utilizou a arma, segurando-a próxima a lâmina, para retirar as escamas. Parecia que após ele ter morrido, a "cola" que juntava seu tecido epitelial tinha sido retirada, pois embora ainda houvesse carne grudada às escamas, estas últimas saíram com certa facilidade. Ela encheu o saco de couro com elas, retirando praticamente todas as escamas do peito intacto da criatura. Quando viu que não havia mais espaço no saco, levantou-se daquele chão ensanguentado e apoiou os espólios no ombro esquerdo enquanto voltava pelo caminho que viera, com o machado ainda ensanguentado na mão esquerda.


Ayumi já estava na metade do caminho de volta de Web Valley quando finalmente acordou. Seu machado tinha sumido - provavelmente tinha voltado para a dimensão -, mas os vestígios de sangue ainda eram bem visíveis em suas roupas e mãos. Ela não precisava se perguntar o que tinha acontecido. Não mesmo.

— Bem... eu tenho de me limpar antes de ir lá, ou Kiyoshi-chan vai me ver nesse estado. Não posso arriscar, não é?

A fala fora dirigida para si mesma, assim como em tantas outras vezes. Uma risada - que não era dela, embora fosse parecida - ecoou em sua mente. Ela sobressaltou-se, olhando para os lados. No susto, porém, não percebera que fora aquele sou outro lado quem rira... até ela rir junto. Meio ela, meio a inquilina.

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